O new deal verde global não é uma utopia. Ele é possível, mas deve ser construído em cada país.
Mais de 2 mil cientistas se reuniram este ano em Copenhague para o congresso internacional sobre mudança climática. Quem achou que o encontro fosse gerar uma visão cataclísmica sobre o aquecimento global, errou o alvo. O congresso acendeu um alerta vermelho sobre o risco crescente de que a mudança climática acelere e provoque eventos abruptos e muito danosos. Mas não parou nas conclusões adversas.
Deixou, ao final, uma mensagem curta, com suas conclusões fundamentais, combinando alertas duros e propostas viáveis de solução. Essa mensagem diz que as tendências observadas de aquecimento estão numa trajetória inaceitável e que há o risco de que acelerem e terminem por levar a mudanças climáticas abruptas e irreversíveis. As sociedades, especialmente as mais pobres, se mostram vulneráveis mesmo a efeitos modestos de mudanças climáticas e não teriam como suportar os resultados de temperaturas médias superiores a 2o C. É necessário criar uma rede de proteção para as nações mais pobres, contra os efeitos tremendamente desiguais da mudança climática. O potencial de disrupção social desse quadro de aquecimento global não pode ser desprezado.
Metas fracas de redução das emissões para 2020 dificultariam a realização de propostas mais ambiciosas para 2050. A mitigação efetiva das emissões precisa começar imediatamente e demandará coordenação global e regional, numa estratégia de longo prazo.Temos os instrumentos necessários para enfrentar o desafio climático e os recursos para ampliar sua escala. A descarbonização das economias nacionais trará muitos benefícios. Vai criar empregos em atividades econômicas de baixo carbono em setores da economia e da sociedade, além de reduzir o risco de danos à saúde e perdas econômicas no futuro. Difícil discordar.
Quando os governos se reunirem em Copenhague para as negociações formais, em dezembro, ouvirão os ecos dessa mensagem. Alguns fatores novos vão pesar muito nas decisões. Um deles é contextual, como nós, politólogos, dizemos. Trata-se da recessão global, que fará o pano de fundo das decisões. Outro, o novo governo dos Estados Unidos, que deverá remover o veto a um adequado acordo sobre o clima. Muitos tentarão usar a crise como álibi para adotar metas menos ambiciosas de redução das emissões. Mas, como argumentou Nicholas Stern, do “relatório Stern”, em Copenhague, ela reduz os custos do início da transição para um novo regime. Também permite que as medidas de reversão da crise global ofereçam os incentivos certos para estimular a descarbonização, como fizeram Estados Unidos e Inglaterra. Essas políticas de investimento e geração de emprego podem estimular o crescimento da “economia verde”, das tecnologias e energias limpas, dando-lhes firme vantagem competitiva. A idéia de um new deal verde e global é apresentada em vários círculos do diálogo climático.
por Sérgio Abranches
Sérgio Abranches é mestre em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB); M.A. e Ph.D. em ciência política pela Cornell University. Diretor e colunista de O Eco (www.oeco.com.br); comentarista de ecopolítica da rádio CBN
Um comentário:
"Usar a crise como álibi para adotar metas menos ambiciosas de redução das emissões", como afirma Sérgio Abranches neste post, é uma tentativa apelativa mas que pode estimular o crescimento da “economia verde”, das tecnologias e energias limpas, dando-lhes firme vantagem competitiva.
O http://odesafiodasmegacidades.com.br/
tem informações consistentes sobre a busca por energia limpa. O blog é resultado de um estudo desenvolvido pelas consultorias GlobeScan e MRC McLean Hazel.
Vale a pena fazer uma visita!
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