terça-feira, 3 de novembro de 2009

Consciência e abundância

por Paulo Roberto da Silva
Foto: Gentil Barreira

Como o modelo de nossa economia influencia a qualidade de meio ambiente?
Todo o movimento de nossa economia, independente de ser capitalista ou socialista, está baseada no sistema da escassez, então, implicitamente, ela só vai crescer e gerar os resultados a que se propõe se a escassez aumentar. Mas o principio da natureza é a abundância: você tem água de graça, ar de graça, camada de ozônio de graça, etc. Se você tem um modelo baseado na escassez, ele conflita com o principio da natureza. Na medida em que nós todos nos envolvemos com a teoria econômica, conhecendo ou não a economia, estamos sendo automaticamente adversários da natureza. O modelo econômico nos estimula a destruir a fonte de abundância. Na minha opinião, o conceito de desenvolvimento econômico sustentável é uma contradição, porque para fazer crescer a economia tem que diminuir a abundância.
O conceito de crescimento sustentável da economia segue os mesmo princípios que você considera ideais?
O crescimento da economia esta sendo cada vez mais criticado, pois ele implica em mais consumo dos recursos do meio ambiente, o que gera problemas ambientais e sociais, porque se você diminui os acessos das pessoas aos recursos, eles vão tentar conseguir ter esse acesso por outros meios, mesmo que eles sejam fora da lei. Se você gera conflito entre excluídos e incluídos, você esta gerando um problema social. Portanto, um problema ambiental é também um problema social, é impossível separar essas duas coisas. Agora, é possível levar este conceito de desenvolvimento sustentável não necessariamente para o lado de crescimento econômico. Não precisamos mais crescer, podemos ter um sistema econômico que forneça o necessário para as pessoas não passarem privação.
Estamos assistindo a uma crise econômica mundial que está sendo agravada pela diminuição dos níveis de consumo. Governantes de todo o mundo estão incentivando o aumento do consumo para a economia se reerguer. Seria possível driblar esta crise de outra maneira, sem atender a esses apelos?
Estamos vendo que a base de nossa economia está toda corroída e está tentando desesperadamente se manter. Algumas pessoas que têm carro já estão optando por não ter mais. Às vezes me perguntam se é possível mudar o consumismo dos americanos, por exemplo, que é o símbolo do exagero, pois bem, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que 27% da população americana está envolvida com o movimento da simplicidade voluntária. Estamos tendo uma grande oportunidade agora, depois de uma história de insucessos, podemos nos perguntar se queremos viver de modo diferente. Acredito que devemos começar pela menor variável, que somos nós mesmos, e depois influenciar uma mudança maior.
Desafio da sustentabilidade na CPFL Cultura - por Fernanda Bellei
Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/post/consciencia-e-abundancia-com-paulo-roberto-da-silva

Um comentário:

Larissa Coldibeli disse...

Muito bom o texto e o ponto de vista!
Acho que você poderá se interessar pelo blog http://odesafiodasmegacidades.com.br/
Lá tem uma pesquisa que foi realizada nas 25 maiores cidades do mundo sobre desenvolvimento e questões sociais e ambientais.
É muito interessante ver, por exemplo, que os governantes preferem aumentar o valor da taxa de uso da água do que investir em projetos de educação de consumo.
Vale a pena conhecer, tem tudo a ver com os assuntos deste blog!
bjos