terça-feira, 25 de maio de 2010

Jovens ecológicos

Com atitudes simples e ecologicamente corretas, um grupo de amigos vem fazendo a diferença em casa. Eles assumiram a responsabilidade pelo meio ambiente e acreditam que, cada um fazendo sua parte, é possível transformar o planeta num lugar melhor.

RODRIGO CARVALHO

Eles saíram do discurso do ecologicamente correto e foram para a prática. No dia a dia, adotaram soluções simples que fazem grande diferença. O planeta agradece!

Dizer que é ecologicamente correto está na moda. Mas do discurso até a pratica vai uma grande diferença. Contudo, um grupo de 12 amigos cansaram de assistir, impassíveis, à forma como o planeta está sendo tratado e arregaçaram as mangas. São todos jovens, gente que trabalha com tatuagem, música eletrônica, propaganda, dança, artes plásticas, biologia, jornalismo, arte-educação e arte-terapia, mas que encontraram tempo para investir no sonho que une a todos: fazer do mundo um lugar melhor, através de ações de conscientização ética, socioeconômica e ambiental.

É o caso do artesão e bioconstrutor Paulo Campos e da educadora ambiental Luciana Campos. O casal está envolvido, há 10 anos em questões ambientais, participando de fóruns e movimentos. Mas, foi há cerca de seis anos que eles adotaram a permacultura no seu dia a dia. “Nós fazemos em casa, desde coisas básicas, como separação do lixo e cultivo de plantas, até reutilização da água do lavatório para dar descarga e uso da iluminação natural”, enumera Paulo.

As filhas Clarissa, 3 anos e meio, e Jasmin, 11 meses, aprendem em casa como cuidar do planeta. “Elas seguem à risca. E a gente faz questão de incentivá-las a cuidar dos animais e plantas. Além de terem uma alimentação saudável com frutas e verduras orgânicas e sem carne”, diz Luciana. “No banho não tem brincadeira. Elas sabem que a água é valiosa”, completa o pai.

Paulo explica que, a partir de sugestões dos amigos, passou a incorporar outras ações, como utilizar produtos de limpeza ecológicos. “Além disso, a gente faz um preparado e divide para o grupo”.

Assim, todo mundo aprende a fazer o pó dental (usado no lugar da pasta de dente), detergente (feito a partir do reúso do óleo) e desinfetante. Uma contribuição da arte-educadora Helena Golabek Gandra, que pesquisando, aprendeu a fazer vários produtos.

Reaproveitar

Além dos produtos de limpeza, ela também criou absorventes ecológicos (que lembram os antigos "paninhos" de nossas bisavós) e incentiva o reaproveitamento e reciclagem. Como uma artista, ela percebe o potencial de muita coisa que iria para o lixo.

"Eu iria jogar fora essa garrafa de vidro fora. Aí pensei: Preciso de uma garrafa para o chá. Então, eu pintei e reciclei o que iria para o lixo. E assim faço com outras coisas", explica Helena. No dia da sessão de fotos, ela usava uma calça que tinha sido manchada, mas que recuperou pintando belíssimas flores.

"É preciso entender que hoje temos um dever moral de sair do discurso e ir para a prática. O discurso só não adianta. É preciso modificar nossas atitudes urgente", conclama Helena, que também faz questão de alertar sobre o consumo desregrado. "É preciso aproveitar ao máximo as coisas. Tudo que compramos desnecessariamente representa um peso ao meio ambiente", completa.

Santo de casa faz milagre

E, assim, aproveitando de tudo, eles criam, com suas próprias mãos, banquinhos, fornos, lenha e adubo para as plantas. É no quintal do estúdio de tatuagem Kaleidoscope que eles criaram a sede do Maloca Sustentável - nome que o próprio grupo de amigos deu para suas reuniões. E tudo é feito com base na permacultura. Lá eles fizeram o bioforno para cozinhar, evitando ao máximo a poluição, criaram a composteira (uma espécie de caixa para reciclagem das matérias orgânicas residuais do nosso cotidiano como restos de alimentos, cascas das frutas, folhas secas e papel, o espiral de ervas e o círculo de bananeiras, que serve como barragem.

Além disso, lá a água usada em pias é despejada diretamente nas plantas. E no quintal, eles colocaram uma coberta viva (teto verde) que protege do sol e diminui a sensação de calor. Além de ficar um charme!

"A gente foi se juntando e dividindo saberes. Fomos aprofundando e vendo que podíamos fazer um lugar o mais sustentável possível", conta a jornalista Juliana Lacerda. Ela, que já fazia coleta seletiva em casa e trabalhava com educação ambiental com crianças na ONG Aquasis, argumenta que passou a vivenciar ainda mais ações ecologicamente responsáveis a partir das reuniões com o grupo.

" Tinha muito cuidado com o lixo, não usava sacolas de plásticos e frequentava feiras ecológicas. Mas, hoje, passei a usar o pó dental e a fazer o espiral de ervas. É uma troca de experiência muito grande".

A arte-educadora Drica Oliveira, também adepta da permacultura há três anos, levou para a sala de aula os conceitos de reciclagem e reaproveitamento. "Levo para as crianças a mensagem da sustentabilidade e emprego na minha arte esse conceito. Como trabalho com crianças, tenho uma esperança muito grande numa mudança", defende.

Mudança fora de casa

Depois de modificarem os hábitos em casa e influenciarem os amigos, o grupo agora quer ampliar seus horizontes e atingir um público ainda maior. Preparando-se para virar uma associação que trabalha com arte e educação ambiental, os "maloqueiros", como são chamados, acreditam na mudança coletiva. "Nosso objetivo é atingir os outros. É preciso despertar, urgente, as pessoas para uma nova consciência ambiental", alerta Paulo. "Como grupo somos mais fortes". É aquela máxima do eterno maluco beleza: "Sonho que se sonha junto é realidade".

DICAS
Pequenas mudanças que fazem diferença

Aposente o carro e outros meios de transporte sempre que possível. Um dos gases responsáveis pelo efeito estufa é o dióxido de carbono (CO2), e a maior parte dele vem da queima de combustíveis.

Substitua as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, que duram até dez vezes mais e economizam até um terço de energia elétrica. Abra as janelas e aproveite o sol.

Separe o lixo na sua casa em seco e molhado. No lixo seco vão papéis, vidros e plásticos. No molhado ficam os restos de comida. Já existe em Fortaleza quem faça a coleta seletiva.

O consumo excessivo é um dos grandes vilões da degradação ambiental. Compre o necessário e prefira produtos de quem respeita o meio ambiente e os que têm o Selo Verde. Reaproveite!

Cada família brasileira usa 66 sacolas plásticas de supermercado por mês. E o pior: elas não podem ser recicladas junto com outros plásticos. O ideal é trocá-las por ecobags.

Plante uma árvore. Essa atitude tem um efeito muito grande para o ambiente. Uma árvore pode absorver até uma tonelada de CO2. Reaproveite a água da chuva, captando-a em um galão e depois regue o jardim ou lave a varanda.


Conheça melhor O MALOCA (www.malocasustentavel.blogspot.com)

Matéria publicada no jornal Diário do Nordeste: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=787461.

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