quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Viver e ser feliz

Foto: Alexandre Lonngren

A tribo neoliberal vai torcer o nariz. Vai achar exótico, incompatível com os padrões contábeis da sociedade capitalista. Mas o indicador da “Felicidade Interna Bruta” (FIB) vem aí. E vai dar o que falar.

No próximo dia 28, na Universidade Federal do Ceará, um seminário coloca em discussão os Novos Paradigmas de Desenvolvimento. Uma indagação, pelo menos, é pertinente nesta hora: por que o desenvolvimento econômico, medido pelo PIB, não traz às pessoas nenhuma garantia de felicidade? Sociedades altamente desenvolvidas, com um Produto Interno Bruto dez vezes maior que o da maioria dos países periféricos, apresentam altos índices de suicídios, de violência e distúrbios mentais. Esse indicador, pelo visto, não é confiável. Pode até medir o desempenho econômico, mas não traduz o essencial: o bem-estar da população, a promoção dos valores culturais e de um desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário, o respeito humano, a capacidade das pessoas de fruírem a vida.

Na França, Nicolas Sarkozy anunciou que o Instituto Nacional de Estatísticas vai incorporar às regras contábeis os indicadores de bem-estar. E o Presidente francês não está “viajando”. Esse novo conceito é sério, porque impõe ao Estado atentar mais para o bem-estar social, priorizar o homem, valorizar o sentimento de realização e outras expressões de felicidade.

Se a FIB for adotada internacionalmente, a França ficará em excelente posição, uma vez que se levarão em conta critérios como a alta qualidade do serviço de saúde, o sistema previdenciário e o direito a férias prolongadas. Já os Estados Unidos despencarão no ranking, por conta de políticas sociais opostas, baseadas numa cega obediência aos ditames capitalistas, que privatizam os serviços essenciais, colocando-os ao alcance de poucos.

O PIB, espelho da ditadura do capital, logo será um índice anacrônico. Já a FIB, esta vem para ficar, porque se reporta ao que mais importa ao ser humano: viver
e ser feliz.

Italo Gurgel - Jornalista
italogurgel@yahoo.com.br
http://www.opovo.com.br/opovo/opiniao/910481.html


Felicidade Interna Bruta será tema de Seminário

Fortaleza entrará no circuito de discussões sobre novos indicadores de progresso através do seminário "Novos paradigmas de desenvolvimento: Felicidade Interna Bruta (FIB)".
Será no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), no dia 28 de setembro, das 15h às 20h.O evento terá como palestrantes a coordenadora do FIB no Brasil e América do Sul, a psicóloga, antropóloga e estudiosa da chamada “ciência da felicidade”, Susan Andrews; o economista e professor da Pontifícia Universidade de São Paulo, Ladislau Dowbor; o coordenador geral do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul, Marcos Arruda, e o coordenador da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, Joaquim Melo. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no local, na data do evento.

As nove dimensões do FIB

- bom padrão de vida econômica;
- boa governança;
- educação de qualidade;
- saúde;
- vitalidade comunitária;
- proteção ambiental;
- acesso à cultura;
- gerenciamento equilibrado do tempo e
- bem estar psicológico.


Fonte: Profª Geísa Mattos, Departamento de Ciências Sociais da UFC e Coordenadora do Seminário.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pacto verde global

Foto: Dário Castro Alves

O new deal verde global não é uma utopia. Ele é possível, mas deve ser construído em cada país
.

Mais de 2 mil cientistas se reuniram este ano em
Copenhague para o congresso internacional sobre mudança climática. Quem achou que o encontro fosse gerar uma visão cataclísmica sobre o aquecimento global, errou o alvo. O congresso acendeu um alerta vermelho sobre o risco crescente de que a mudança climática acelere e provoque eventos abruptos e muito danosos. Mas não parou nas conclusões adversas.

Deixou, ao final, uma mensagem curta, com suas conclusões fundamentais, combinando alertas duros e propostas viáveis de solução. Essa mensagem diz que as tendências observadas de aquecimento estão numa
trajetória inaceitável e que há o risco de que acelerem e terminem por levar a mudanças climáticas abruptas e irreversíveis. As sociedades, especialmente as mais pobres, se mostram vulneráveis mesmo a efeitos modestos de mudanças climáticas e não teriam como suportar os resultados de temperaturas médias superiores a 2o C. É necessário criar uma rede de proteção para as nações mais pobres, contra os efeitos tremendamente desiguais da mudança climática. O potencial de disrupção social desse quadro de aquecimento global não pode ser desprezado.

Metas fracas de redução das emissões para 2020 dificultariam a realização de propostas mais ambiciosas para 2050. A mitigação
efetiva das emissões precisa começar imediatamente e demandará coordenação global e regional, numa estratégia de longo prazo.Temos os instrumentos necessários para enfrentar o desafio climático e os recursos para ampliar sua escala. A descarbonização das economias nacionais trará muitos benefícios. Vai criar empregos em atividades econômicas de baixo carbono em setores da economia e da sociedade, além de reduzir o risco de danos à saúde e perdas econômicas no futuro. Difícil discordar.

Quando os governos se reunirem em
Copenhague para as negociações formais, em dezembro, ouvirão os ecos dessa mensagem. Alguns fatores novos vão pesar muito nas decisões. Um deles é contextual, como nós, politólogos, dizemos. Trata-se da recessão global, que fará o pano de fundo das decisões. Outro, o novo governo dos Estados Unidos, que deverá remover o veto a um adequado acordo sobre o clima. Muitos tentarão usar a crise como álibi para adotar metas menos ambiciosas de redução das emissões. Mas, como argumentou Nicholas Stern, do “relatório Stern”, em Copenhague, ela reduz os custos do início da transição para um novo regime. Também permite que as medidas de reversão da crise global ofereçam os incentivos certos para estimular a descarbonização, como fizeram Estados Unidos e Inglaterra. Essas políticas de investimento e geração de emprego podem estimular o crescimento da “economia verde”, das tecnologias e energias limpas, dando-lhes firme vantagem competitiva. A idéia de um new deal verde e global é apresentada em vários círculos do diálogo climático.

por Sérgio Abranches

Sérgio Abranches é mestre em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB); M.A. e Ph.D. em ciência política pela Cornell University. Diretor e colunista de O Eco (www.oeco.com.br); comentarista de ecopolítica da rádio CBN